"Vamos, vamos minha gente que uma noite não é nada
Oi, quem chegou foi Xukuru no romper da madrugada
Vamos ver se nós acaba com o resto da empreitada"
Canta o povo Xukuru. De barretina e corpo pintado, sempre à luta, se
fortalecendo quanto nação da Serra do Ororubá. Quanto povo defensor deste bem
maior dado por Tupã. Esta mãe chamada terra. Solo cujo sangue é as águas, os
ossos são as pedras e os cabelos são as matas. Matas onde os caboclos e
caboclas estão presentes.
Entoado pelos maracás, esse cantar vem pra unificar as forças dos vivos
e dos encantados. Unir a pisada do tore, que não mais se esconde de
fazendeiros, ao trotar dos cavaleiros de Aruanda. Vem pra afirmar sua
identidade de resistência baseada na espiritualidade e praticas objetivas.
Pisa forte, quero ver pisar. Firmes neste território tradicional. Contra
essa República branca e seu modelo de produção e exploração. Contra as forças
que historicamente se opõem ao projeto de Bem Viver: dos distantes velejadores
invasores à atual bancada ruralista do congresso nacional com suas PECs opressoras.
Dos passados missionários criadores de gado, com mão de obra escrava indígena,
aos recentes latifundiários da bovinocultura.
Latifúndio assassino, natureza acolhedora;
Chico Quelé, a vítima novamente transformada em réu. Não partiu para o
céu. Cacique Xicão permanece entre nós como símbolo da retomada deste solo sagrado.
Acolhido pelo mesmo, agora encantado. Plantado para que dele nasçam novos
guerreiros. Estes mesmos combatentes iluminados que sustentam a luta.
Neste maio invernal de 2013, décimo quinto após o ocorrido homicídio,
todos floresceram Xicão. Todos que se juntaram na aldeia Pedra Dágua, entre os
dias 17 e 20, pra dialogar e refletir sobre esta trajetória de desintrusão e proteção deste território.
Todos que desceram a serra e caminharam nas ruas de Pesqueira, mostrando-se
índios ou aliados a esta causa.
Após a assembleia, quando Xukurus e outros povos indígenas retornam a
suas aldeias, voltam a seu cotidiano onde vida e luta não se distinguem. Esta
também é a realidade de muitos de nós ao retornar para nossas periferias.
Então, nas mais diversas regiões do país, que continuemos a desabrochar tal
ideal de comportamento e liderança que Xicão se tornou. Que tal ousadia em
enfrentar as situações desfavoráveis culmine em superação de limites e exemplos
próprios. Que esta força imanente, associada à consciência de espécie humana
que somos, deixe sempre nítido de que lado estamos. O lado de cá. O lado
indígena, negro, quilombola, favelado, feminino, diverso sexual. O lado do povo
autônomo em busca de sua emancipação para reestabelecer os princípios geradores
da vida em plenitude; o respeito ao ser humano e à natureza.
“Em cima do medo, coragem.”
Foto por Bruna Gomes |
Foto por Bruna Gomes |
* Postado em 19/07/2013
k massa perfeitoo emol arrasou!!
ResponderExcluirParticipei um dia da assembleia e sei que cada dia o povo Xucuru fica forte, as encantados presente na luta dá pra sentir.
ResponderExcluirTexto muito bom e fotos... lindas. Parabéns! Belo trabalho
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